Isto de ser emigrante faz uma pessoa crescer e tal... aprende a desenrascar-se, lavar a roupa, cozinhar (mal...), desentupir os canos, coser roupa, arranjar a perna da cama partida, o sofá-cama que desengonçou, a luz e água que precisam de ser "activadas", comprar o papel higiénico para não ter de usar jornal, lavar a casa de banho... Enfim, essas coisitas que parecem super normais e tarefas do quotidiano mas que a mamãe normalmente fazia... não para todos com certeza, mas para mim sim.
Depois de 6 meses ainda não sei cozinhar, deixo o papel higiénico acabar, telefono à minha mãe para perguntar como hei-de desentupir os canos ou quando estou doente, saio de casa sem fazer a cama (que tem uma lima a segurar a perna partida)... Ou seja, ando desenrascada, cresci, estou independente, se calhar até demais, já não sei se agora conseguiria viver com alguém, tou organizada na minha própria desorganização! No fundo, continuo a mesma, mais farta de mim, menos farta dos outros... ou ao contrário? Bem, não sei, acho que também contínuo indecisa... eheheheheh!
Isto tudo para dizer que apesar de tudo o que se possa (des)aprender, o que realmente vale a pena em ser emigrante é a saudadezinha permanente, umas vezes mais forte, outras meio adormecida, mas sempre lá! Saudade do nosso país, do sol, da casa cheia de gente, a mãe a resmungar com o avô, o cão a ladrar, o primo no computador, a responder "hum hum" a qualquer pergunta que se lhe faça, as broeiras a discutir no autocarro, as mulheres a cuscar no cabeleireiro, ir à escola, ir ao café, beber uma bica com água das pedras e limão! Aaaaiiiiiiii que boooommm!!
Tenho noção que se agora voltasse para Portugal, Lisboa, Casal de Cambra, não iria ser isto que encontraria... se o tempo continuou a passar (a correr) para mim aqui em Bruxelas, também passou em Portugal... a Terra gira, as pessoas movem-se, acabou a escola, o cabeleireiro fechou, o autocarro mudou de trajecto, os amigos do café mudaram de casa, casaram, têm novos amigos... enfim... Por isso, guardo a lembrança do MEU Casal de Cambra bem guardadinha, apesar de saber que nunca mais vou voltar, que se voltar já não vai ser o mesmo... mas não faz mal, é a mudança, aceito-a, também quis mudar, e vou continuar a mudar... mas é sempre bom ter essa lembrança...
É nisto que sinto que estou diferente, nunca tinha dado valor merecido a Casal de Cambra, às cuscas, ao cão, as vezes nem muita à família... Agora dou, e dou valor aos 3 dias de sol que tive este Verão! Às festas com música e mojitos a que vou! Aos jantares de tostas e ovos mexidos com a Elsinha, ao chouricinho, pasteis de nata, vinho do Porto, que trouxe de Portugal! Deitar-me na relva e ver os bebés a brincar (sim, já gosto de bebés embora continue a dizer que não, não digam a ninguém), os cães feitos parvos a mandarem-se para a água tentar morder uma bola maior que a sua própria cabeça! O telefonema às 2 da manha da Fatinha, o e-mail XL da Paulinha, as gravações de clips no MSN do Paulinho dizer-me ordinarices! Eheheheheheh! Pequenas coisas que sabem melhor que nunca...
Sinto-me sozinha mas estou feliz, tranquila, sorrio e brinco, apesar da Saudade estar sempre lá... é bom estar assim, é diferente, muda...
Carla
Segundo a Vero é o melhor Capuccino de Bruxelas...
